sexta-feira, 3 de junho de 2011

Finalmente, alguém que me compreende.

Há poucas coisas mais tranquilizadoras na vida que descobrir, ao fim de muito tempo, que não se está sozinho. Ontem foi o dia em que isso me aconteceu. Tenho andado eu aqui há mais de um ano (pelo menos conscientemente) a explicar às pessoas porque é que não suporto a ideia de ter de ter uma hora e meia de almoço, e tudo de olho arregalado a olhar para mim. Será tão difícil assim perceber que me basta meia-hora para comer e que me daria imenso jeito sair do trabalho uma hora mais cedo? Será tão difícil assim entender a aritmética de telemóvel+ msn+facebook+conversa de chacha durante o horário de expediente = ter de sair uma hora mais tarde? Uma chata para os colegas, uma inconveniente para os empregadores, uma “esquisita” para muitos amigos. Eis como me sinto. Só mesmo eu é que me lembro de alargar a licença de maternidade por mais três meses, como a lei prevê. Está-se mesmo a ver que vou ficar, como algumas amigas me disseram, “demasiado tempo fora do circuito”. Nem interessa que para além de passar tempo precioso – preciosíssimo- com as minhas filhas, consiga ainda ler, escrever, pensar e até fazer formação, tudo em doses que não estariam ao meu alcance se estivesse a trabalhar. “Então e as férias, estão a ser boas?” perguntam eles, uns com, outros sem maldade. Ainda não perceberam a diferença entre estar de papo para o ar na praia e estar a cuidar de um bebé e de uma pré-adolescente, com a casa pelo meio. Pouca gente percebe, na verdade. Felizmente, ontem dei com o apanhadanacurva.blogspot.com e com o revolucionarparaflexibilizar.blogspot.com. Aaaaaahhhh…. Que alívio!!! Finalmente, alguém que me compreende.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A rir por tudo e por nada

Assim que acorda, ela solta uma gargalhada. Um som ligeiramente metálico, que acaba com um “tzzz” a sibilar com o que lhe resta de fôlego. Foi assim desde que soube rir e não precisou de muito tempo para aprender esse truque de magia, para muitos tão rebuscado e improvável como o sol da meia-noite. Aos três meses, quando os bebés usam o choro para obterem o que querem, já ela dominava a questão. Tão natural como respirar, a tal gargalhadinha chamava a atenção e conquistava quem, à sua volta, logo se predispunha a atender-lhe os pedidos. Aquele rasgar de boca, ladeado por duas bochechas brilhantes, o fechar achinesado dos olhos cujas pestanas imensas desafiam a gravidade, é irresistível. Talvez algumas pessoas nasçam para rir, tal como tantas outras o fazem para chorar, agarradas às penas próprias e alheias, ao saudosismo e ao arrependimento. Talvez algumas pessoas nasçam a rir e aquele primeiro grito seja já uma gargalhada disfarçada. Para ela, todos os dias começam com um sorriso. E os nossos dias tornaram-se também muito mais risonhos. Quem me dera que o riso nunca lhe largasse a boca, as bochechas e os olhos, que ali estivesse ainda com o romper dos dentes, com o primeiro dia de escola, com o primeiro amor e todos os dias até ao último. Oxalá mesmo nesse fatídico dia, quando toda a certeza a abandonar, possa ainda sobreviver o som de uma gargalhada.