quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Engraxando à janela

Um homem engraxava um sapato preto à janela. Um único sapato pendurado à janela, e ele com afinco, sobrolho franzido, a escová-lo como se aquilo fosse o centro do mundo. A cara dele secara como a de um pescador e o sapato reluzente, hidratado, parecia estranho naquelas mãos. A casa, como o seu rosto, já tinha perdido a tinta mas, tão certo como o homem ter o par do sapato, um dia fora amarela. Atrás dele passou de repente a sombra de um gato, ou talvez essa parte fosse imaginação. Mas ele estava lá, pendurado à janela. E eu passei.

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